Serra e eu

Eu também não gosto do Serra, mas meu voto é dele. Eu também acho o presidenciável tucano antipático, de sorriso amarelo, por vezes, arrogante. É claro que essa leitura é de alguém que nunca trocou sequer um 'bom dia' com ele.
Já fiquei num estado de nervos alteradíssimo quando, em 2008, Serra sinalizou que viria na inauguração da escola estadual Elza Facca, em Botujuru, e na última hora não veio. Fiquei tão virulento, que quando ele compareceu na assinatura de convênio para instalação da escola técnica, também em Botujuru, sequer quis ir ver.

Quando se tornou candidato à presidência, tive que por meus ressentimentos de lado. Nesta hora, as minhas birras como cidadão e eleitor perdem totalmente a importância diante de questões que dizem respeito ao futuro do meu município, Estado e país.
Não posso decidir meu voto simplesmente por achar o fulano mais bonito ou feio, de sorriso mais fácil ou de cara feia. Não posso votar em função de ter ou não afinidades com este ou aquele. Quando preciso decidir para quem vai o meu precioso voto, tenho que por na mesa muito mais que justificativas emotivas, preciso recorrer a justificativas racionais, ou seja, aquelas que podem ser testadas e aprovadas.

Não posso decidir voto por sentimento, emoção, feeling ou qualquer outro nome que se dê. Tenho que decidir voto considerando propostas, experiência e competências de quem propõe. Recentemente, ouvi um grupo de professoras dizerem: 'não voto no Serra porque se não esse país para'. Engraçado.... Há exatos 191 dias, Serra estava à frente do governo de São Paulo. Conduzia com maestria a unidade federativa mais potente da República. Até onde sei, se é que não fui abduzido, o Estado não parou. Pelo contrário, continua com o status de potência econômica nacional e com índices de crescimento em todos os setores.

Há quem reclame que o Serra criou pedágio demais. Também não gosto de pagar R$ 10 para ir a Cabreúva-SP e voltar, mas gosto de ter uma estrada bem pavimentada, segura e com suporte para qualquer emergência. E, infelizmente, isso não seria possível sem o tal pedágio. É fácil ficar na trincheira e criticar pejorativamente ao ex-governador, mas é difícil avaliar racionalmente as próprias críticas.
Alguns grupos da sociedade levantam a bandeira de que a progressão continuada é o grande mal do governo tucano. Será? Os petistas dizem que resolveriam isso no Estado. Acho engraçado que as Universidades Federais, onde o governo Federal tem influência direta, também se queixam de sucateamento. Se saberiam como resolver a educação básica paulista, porque se atrapalham para elevar a qualidade do Ensino Superior?

Para quem diz que Serra pararia o Brasil, e mora na região Campo Limpo Paulista -há 60km de São Paulo-, vale lembrar que graças à sua percepção dos temas realmente importantes e coragem para tomar as medidas certas, o rio Jundiaí ganhou esperança de voltar a ser limpo e vivo com a construção do Sistema Integrado de Esgotos. A obra, prevista para ser entregue em janeiro de 2013, vai melhorar o saneamento básico em toda região. Com melhor saneamento, há mais saúde.
Com um custo de R$ 112 milhões, seria impossível para Campo Limpo e Várzea Paulista executarem projetos desta dimensão sem a intervenção do governo estadual. O custo da obra corresponde a todo o dinheiro do orçamento de 2010 que a prefeitura de Campo Limpo teve para pagar todas as suas despesas.
Por esses e outros fatores, não adianta eu não gostar da careca do Serra. Tenho que gostar mais, aliás, tenho que amar mais ao meu país, meus patrícios e meus herdeiros.

Medida de sucesso

Com elevada frequência, acredita-se que o sucesso é mensurável pela régua da bajulação. Quanto mais cumprimentos, elogios e 'babações' se pode ouvir, mais acredita-se que o sucesso chegou.
Esta medida é boa e verdadeira para quem não gosta de encarar os fatos, assumir os próprios erros, reconhecer as limitações, rever conceitos e valores. A bajulação é o melhor anestésico do incompetente e covarde.

E essa covardia não diz respeito ao que se faz com os outros, mas o que não se faz consigo mesmo. Isso porque o covarde tem muita pressa e grande habilidade para apontar e acusar.
Quem mede o sucesso pela régua da bajulação, só sabe dizer que os outros estão errados. Neste sentido, o pseudo-herói tem coragem ímpar para 'detonar'.

Entretanto, a coragem some como vapor quando se trata de apontar o dedo inquiridor para o próprio reflexo e praticar o difícil exercício da autocrítica.
Contudo, não quero tanto me deter no fracassado que condena, persegue, oprime e sufoca aos outros. Quero poder pensar na outra forma de medir o sucesso.
Pode parecer antagônica, melancólica ou até o discurso de um frustrado. No entanto, ouso dizer que é apenas um aprendizado que vem no curto espaço de tempo que chamamos de vida ou, se preferirem, apenas uma experiência.

O sucesso é realmente medido pela intensidade e frequência com que se é acusado, perseguido, caluniado, oprimido, silenciado, negligenciado, humilhado, esquecido, desprezado e tantas outras expressões dos sentimentos alheios que indicam, em maior ou menor grau, o quanto o sucesso realmente está sendo alcançado.
Um adágio popular afirma que 'só se atira pedras em árvore que dá frutos'. Contudo, quando as pedradas chegam, sejam elas de qualquer mão, é muito difícil o entendimento de que elas serão boas e que, em algum momento, terão alguma utilidade.

No primeiro momento e diria até que muitos momentos depois, reclamamos, esbravejamos, às vezes, até blasfemamos contra Deus perguntando 'por quê?'. Num instante de loucura, chegamos a afirmar que o Pai nos teria abandonado.
Todavia, se as pedradas não param de nos atingir, se o risco de sermos árvores cortadas parece sempre iminente, essa é uma excelente forma de medir o sucesso e perceber que alguma coisa boa está sendo possível fazer.
Em geral, por causa das feridas formadas pelas pedradas e punhaladas, perde-se a percepção de quantas coisas boas está acontecendo em nós e através de nós.

Esta não percepção dos resultados vem como parte da nossa própria limitação, mas parece ser um mecanismo que o Criador desenvolveu para evitar que nos tornemos arrogantes e soberbos.
Se conseguíssemos sempre saber o tamanho do bem que fizemos, quer às pessoas que estão perto ou que estão longe, correríamos sério risco de nos tornarmos megalomaníacos.

Mas se as pedradas que podem se manifestar como traições, armações, falcatruas, entre outras mazelas, nos trazem alguma dor, é bom pensar no fato de que para cada pedrada, é possível subir um degrau na escala do que é o sucesso realmente.
Quem é bajulado experimenta uma fama efêmera e, logo que mudar de posto ou for substituído, em pouco tempo não se saberá mais quem foi ou o que fez. Já o perseguido pelos bons frutos que produz, nem mesmo a morte consegue suplantar sua influência, apagar sua memória e extinguir os seus frutos.

Os mineiros nossos de cada dia

Resgate dos mineiros é uma lição para o mundo

Após 68 dias sem ver a luz do sol e tendo sido dados como mortos por pelo menos 17 alvoradas, os 33 mineiros que estavam a 620 metros de profundidade, no meio do deserto mais seco do mundo, o do Atacama, na Mina de San José, há 45 km da cidade de Copiapó, no Chile, têm um cântico de vitória que deve celebrar a vida.
As referências geográficas parecem nos remeter a lugar algum. De fato, milhões de espectadores, leitores e ouvintes de todo o mundo que acompanharam cada etapa do resgate dos mineiros nunca foram e jamais deverão ir ao local. No entanto, do meio do nada, os habitantes do globo terrestre têm a possibilidade de fazer inúmeras reflexões com o exemplo de garra e determinação que emanam desta linda história.

O próprio presidente chileno, Sebástian Piñera, afirmou que o "Chile não é o mesmo país de 69 dias atrás". Isso reflete um pouco das grandes lições que se pode extrair do 'renascimento' dos mineiros. Vi e ouvi diversos depoimentos de pessoas que se transportaram para o acampamento de resgate. Em um determinado momento, não importava que não tivesse nenhum patrício sob os escombros, o fato mais importante é que também são imagem e semelhança do Criador.

Embora os protagonistas da história sejam os mineiros, outros personagens deste episódio deixam importantes lições. Merece destaque o clima de 'grande família' propiciado pelas esposas, filhos, pais, amigos e centenas de profissionais envolvidos.
Repórteres admitiram ser tratados pelos parentes dos mineiros como membros da família. Sem dúvida, um momento esplêndido para as centenas de jornalistas de todo o mundo que foram enviados ao local para monitorar todo o trabalho.
A disposição de profissionais de todo o mundo no resgate também foi fundamental para o êxito da operação. A mobilização incluiu desde uma equipe da Nasa até um engenheiro norte-americano que saiu direto do Afeganistão para o meio do nada chileno.
Uma multidão de pessoas teve que doar um pouco mais de tempo, talento, experiência para não permitir que sonhos, aspirações e projetos dos 33 homens e suas famílias acabassem.

Este resgate dramático e pleno de sucesso fez minha mente viajar em outros resgates que precisamos fazer todos os dias. Exatamente neste momento, talvez no quarto ao lado, na divisão da empresa, sentado no banco de uma praça, deitado no leito de um hospital, atrás de um caixa de supermercado, enfim, em múltiplas funções e lugares, há alguém que, embora o corpo não esteja no fundo do poço, a alma está escondida em alguma caverna sem expectativa de sair.

Os motivos que os levaram ao fundo do poço são múltiplos. Vão desde drogas à perda de um ente querido. Podem ter vivido terremotos que soterraram sonhos, projetos e visões. Alguns podem estar submersos no poço do ostracismo, do esquecimento, da solidão por escolhas erradas, por não ter ouvido o conselho do pai ou da mãe, por ter se isolado sistematicamente dos amigos, enfim, os motivos para cair são tão variados que não cabe citar aqui.

O que realmente importa é o quanto nos esforçamos para tirá-los de lá. Sempre há algo que possamos fazer: uma oração, um estender das mãos, um emprestar de ombro para que se faça um desabafo, um sorriso, um abraço, qualquer gesto que indique estarmos em comunhão, isto é, comendo na mesma mesa um pão que não é produzido entre os homens, mas que vem fresquinho da parte de Deus.
Foi do fundo do poço que Cristo se propôs a retirar a humanidade quando deu a sua vida em lugar dos pecadores. O Filho de Deus pagou o preço do resgate. Embora não possamos chegar ao valor pago pelo Messias, podemos nos empenhar, juntar todos os nossos esforços, talentos, conhecimentos e habilidades para que os semelhantes à nossa volta sejam alcançados por cordas de amor.

 
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