Um coração de boa memória

"A gratidão é alimentada e impulsionada por uma boa memória"

"Quero trazer à memória o que pode me trazer esperança." (Lamentações de Jeremias 3:21). Em meio ao caos que Jeremias registrou após 40 anos profetizando que Israel sofreria a pena por sua dureza espiritual, exatamente no meio do livro de seu cântico, no capítulo 3 ele insere um atestado de confiança no cuidado de Deus. 
À luz desta resolução do profeta, aprendo que temos a necessidade de estar sempre trazendo à memória as operações de Deus em nossas vidas. Não importa o que foi feito, mas se foi Ele quem operou, não seríamos dignos de receber, Ele o fez por absoluta graça e misericórdia.
Embora Deus tenha uma memória que não esquece de nada do que fazemos em prol de sua obra, a mente humana precisa de alguns recursos para que a memória seja ativada da melhor maneira. Entendo que, por isso, Jesus instituiu a Santa Ceia. Caso contrário, o sacrifício do Calvário teria sido esquecido logo após a morte do último membro da geração que viu a expiação.

O salmista fala sobre os sucessivos esquecimentos aos feitos de Deus por parte de Israel. "Nossos pais não entenderam as tuas maravilhas no Egito; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias; antes o provocaram no mar, sim no Mar Vermelho. Porém cedo se esqueceram das suas obras; não esperaram o seu conselho. Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que fizera grandezas no Egito" (Salmo 106:7, 13, 21). 

Para contrastar, no mesmo salmo a memória de Deus é apresentada: "Lembra-te de mim, SENHOR, segundo a tua boa vontade para com o teu povo; visita-me com a tua salvação. E se lembrou da sua aliança, e se compadeceu segundo a multidão das suas misericórdias." (vv. 4, 45). O profeta messiânico, Isaías, revelou anos mais tarde à escrita do salmo: "Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti." (Isaías 49:15).

O salmista também ordenou: "Lembrem-se das maravilhas que ele fez, dos seus prodígios e das sentenças de juízo que pronunciou" (Salmo 105:5). Quem tem boa memória espiritual, faz crescer um espírito grato, confiante e pautado nas promessas de Deus e não nas circunstâncias.
Quem esquece das promessas de Deus desenvolve o medo e entrega os pontos. Hagar, no deserto, com Ismael esqueceu da promessa feita a ela quando ainda estava gerando o rapaz. 

No capítulo 6 do livro de Gênesis está a promessa: "Então lhe disse o anjo do SENHOR: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos. Disse-lhe mais o anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada, por numerosa que será. Disse-lhe também o anjo do SENHOR: Eis que concebeste, e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Ismael; porquanto o SENHOR ouviu a tua aflição. E ele será homem feroz, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos. E ela chamou o nome do SENHOR, que com ela falava: Tu és Deus que me vê; porque disse: Não olhei eu também para aquele que me vê?" (Gn. 6:9-13).

Anos mais tarde, uma vez despedida por Abraão, o contexto se tornou ruim: acabou a comida, acabou a água e a morte parecia certa. Mas havia uma promessa de Deus para Ismael que fora proferida no capítulo 6.Quando Hagar entrega os pontos por causa da memória fraca Deus novamente intervém:
"E consumida a água do odre, lançou o menino debaixo de uma das árvores.
E foi assentar-se em frente, afastando-se à distância de um tiro de arco; porque dizia: Que eu não veja morrer o menino. E assentou-se em frente, e levantou a sua voz, e chorou. E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o anjo de Deus a Agar desde os céus, e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está. Ergue-te, levanta o menino e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande nação. E abriu-lhe Deus os olhos, e viu um poço de água; e foi encher o odre de água, e deu de beber ao menino. E era Deus com o menino, que cresceu; e habitou no deserto, e foi flecheiro."(Gênesis 21:14-21)

Entre os 12 espias enviados por Moisés para conhecer a terra de Canaã, apenas Josué e Calebe tinham boa memória espiritual. Pela péssima memória dez deles estavam focados nas limitações e não nas possibilidades, preferiam superestimar o inimigo e, pior, queriam voltar para o Egito e serem escravos mais uma vez. "Porém, os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. Éramos aos nossos olhos como gafanhotos e assim também éramos aos seus olhos" (Num. 13:31, 33; 14:4). Quem esquece as promessas constrói seu discurso centrado no inimigo, vaticinando a própria derrota. Se nos deixamos vencer pela desesperança, que é um sinal de memória espiritual fraca, agimos com covardia, nos esquivamos, fugimos das responsabilidades e, por vezes, adotamos o discurso da derrota antes mesmo da batalha. 

Com boa memória espiritual, Josué e Calebe se diferenciaram na sua geração. Tinham coragem, confiavam no Senhor e tinham fé suficiente para animar aos demais, quase se tornaram vítimas dos incrédulos e murmuradores, mas foram resguardados pelo Senhor. 
"E Josué, filho de Num, e Calebe filho de Jefoné, dos que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes. E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pela qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o SENHOR se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o SENHOR, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o SENHOR é conosco; não os temais. Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do SENHOR apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel." (Num. 14:6-10)

Gideão é um exemplo de quem tem boa memória, mas não está agindo de acordo com o que pode. Apesar de não estar no melhor lugar para fazer seu trabalho, ele queria ver na sua geração a realização dos feitos que ouvia falar. Sua postura questionadora não foi discriminada pelo Anjo do Senhor, pelo contrário, foi endossada pela palavra: "Vai nesta tua força". "Então o anjo do SENHOR veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas. Então o anjo do SENHOR lhe apareceu, e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valoroso. Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o SENHOR é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém agora o SENHOR nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas. Então o SENHOR olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu?" (Juízes 6:11-14).

Que tenhamos todos uma memória melhor, pautada no que Deus já fez e nas promessas que Ele mesmo garantiu que vai fazer.

Inveja da Líbia

Amadureci com a informação de que a inveja é um sentimento pecaminoso. Acredito que realmente o seja, mas devo confessar que em alguns momentos ela parece ser a coisa que mais quer prevalecer na mente.
De acordo com o Google, em linha reta, estamos há mais de 8.900km de distância de Trípoli, capital da Líbia. Mesmo a esta distância, nunca estive tão envolvido por um povo quanto estive nos últimos dias pelos líbios.
Embora lamente a morosidade que eles tiveram para uma reviravolta contra quase 42 anos de ditadura de um tirano, sou obrigado a atribuir-lhes a presunção da inocência uma vez que não conheço as razões que fizeram com que se mantivessem em condição tão subserviente por tanto tempo.
De qualquer forma, a deposição de Kadhafi do governo, embora pareça tardia, deve ser mesmo muito celebrada pelos líbios e os povos de outras nações da terra devem aprender com o caso.
E o que isso tem a ver com a inveja que citei no primeiro parágrafo? Tive inveja da disposição dos líbios em lutar pelo que eles entendem ser liberdade.
Problemas diplomáticos internacionais à parte, eles, os líbios, empunharam armas, dispuseram-se a doar as próprias vidas em prol de uma causa. Aqui a inveja apoderou-se de mim. Procurei por uma palavra que fosse menos pesada para traduzir o que senti, mas acabei ficando com inveja mesmo.
De acordo com o dicionário ela, a inveja, pode ser definida como 1) Misto de desgosto e ódio provocado pelo sucesso ou pelas posses de outrem; 2) Desejo intenso de possuir os bens de alguém ou de usufruir sua felicidade.
Para este momento fico com a última definição: "desejo de usufruir a felicidade de alguém". Isso porque desejei a felicidade que parte da população líbia está sentindo por ser ver livre do homem que pode ter seu nome grafado de 112 maneiras, segundo um site de notícias português.
Não estou com inveja a ponto de querer que os líbios se percam neste processo de transição, mas estou com inveja a ponto de perguntar porque eu e mais outros tantos milhões de brasileiros não temos a mesma postura para lutar pelo nosso país.
Alguém poderá dizer que não precisamos disso porque, como canta Benito Di Paula, moramos "em um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!".
Com versos que exaltam as belezas naturais sobre as quais não aplicamos nenhum esforço para construir, mas nos empenhamos arduamente para destruir, nos anestesiamos contra coisas que deveriam nos causar dores, asco, revolta, e, no ápice dos sentimentos, nos levar à mudança.
Tenho inveja dos líbios porque, em algum momento, eles decidiram que queriam mudar. Cá pelos trópicos, fico a me questionar quando e se vamos querer, de fato, viver num país mais justo e igualitário.
Posso mesmo estar parecendo melancólico, talvez melodramático, mas não consigo abafar este grito. O fato é que sinto-me vencido, sem expectativa, quase derrotado por um sistema de coisas que prefere o jeitinho à solução, a enrolação ao planejamento, a corrupção à ética.
Temos sidos bombardeados por situações escandalosas, denúncias, acusações. Algumas comprovadas, outras apenas fruto de gente mal intencionada e nada comprometida com o desenvolvimento do país.
De qualquer forma, cheguei a uma conclusão dolorosa, que me dá uma clareza que não gostaria de chegar. Nos queixamos da corrupção de políticos. Mas pergunto: quem os escolheu? Somos um povo sem educação e, ao que parece, não estamos interessados em estudar.
A grande maioria de nós é facilmente enganada. Se interessa e reproduz fofoca, mas não tem o menor interesse em conhecer o que está registrado e pode ser comprovado. Se o povo líbio comemora a liberdade pós-ditadura, temos ao menos que sonhar com o dia que nos veremos livres das cadeias do comodismo e conformação.

As notícias que ninguém publica

O jornalista Pedro Bial afirmou certa vez: "Nas viagens de cobertura jornalística, as melhores histórias nunca chegam a ser contadas". Ao me deparar com uma afirmação tão contundente que vem assinada por uma pessoa com bagagem tão densa comemorei pelo fato de ter alguém que concorda comigo e lamentei porque, como não se publica as melhores histórias, somos bombardeados com as piores.

Não quero com isso defender um noticiário apenas com pétalas de rosas e leite de colônia. A guerra talvez exista para que saibamos valorizar a paz. Falando nisso, é engraçado -para não dizer ridículo- que a mente humana apresenta argumentos sobre como estabelecer a paz a partir da fabricação de armas de guerra e do treinamento de soldados prontos para matar, mas nem tão dispostos a morrer.

Mas, voltemos para o que inspirou a coluna desta semana. A partir da reflexão de Bial passei a ponderar sobre as riquíssimas histórias que estão guardadas em cada pessoa. Acumuladas em uma família, numa vila, no ambiente de trabalho, na escola, na igreja, na arquibancada de um estádio, nos barracões, nas mansões, nos casebres, nos viadutos e castelos.

Como outros milhões de brasileiros, utilizo sempre uma Mercedes, com motorista particular que tem o costume de pegar muitos 'amigos' por onde passa. Mesmo sendo um veículo de grife, acaba ficando um pouquinho apertado pelo tanto de 'amigos' que precisam utilizá-lo. Quase sempre é tanta gente que uso algumas barras estrategicamente distribuídas na Mercedes para não beijar o chão forçadamente. Ai de mim não fossem elas!

Nesta Mercedes já vivi experiências que fariam inveja a qualquer atleta de esportes radicais. Isso porque alguns dos meus diletos motoristas quase comportam-se como pilotos de Fórmula Indy. Mesmo não tendo um tapete para deslizar seus pés de borracha. Aliás eles trafegam sobre vias que mais lembram o solo lunar. Mesmo assim, divertem-se com manobras que fazem levar a mão à boca para impedir que os lábios se movimentem e emitam sons de palavras pouco decorosas.

Momentos de adrenalina à parte... Dentro destas Mercedes, que vulgarmente chamamos de 'busão', sempre ponho-me a pensar sobre quantas histórias tem em minha volta que jamais poderei conhecer. Esse desconhecimento é fruto ou da timidez de seus protagonistas ou pelo desinteresse de qualquer pessoa em registrá-las.

Talvez muitos destes personagens de carne e osso só se tornassem interessantes para a massa se fossem alvos de tiro, sequestro relâmpago, acidentes 'ultra-mega-master' espetaculares e outras tragédias.
Infelizmente, este interesse que alimentamos apenas pelo que é grotesco é mais velho e poderoso que eu. As páginas dos jornais, as reportagens de rádio e TV, as publicações da Internet vão sempre destacar o vil e relegar o belo a uma pincelada. O gracioso desperta menos interesse que o monstruoso. A dor aguça mais a curiosidade que o prazer. A derrota alheia parece dopar a plateia pela simples conclusão: 'ainda bem que não foi comigo'.

Se, contudo, as histórias de gente simples não vendem jornais e revistas, tão pouco dão audiência em televisão, proponho que ao menos tentemos conhecer o universo infinito e sempre inexplorado destas dezenas, centenas, milhares e milhões de pessoas que nos cercam todos os dias e que, para facilitar a identificação, simplesmente chamamos de próximo.

Estes "próximos" são pais que tentam dar o melhor para seus filhos. Uns conseguem, outros não.  São maridos que cuidam de suas esposas no leito de morte. Umas sobrevivem, outras partem. São filhos que sonham com a cura do pai. São crianças que apenas querem crescer no mundo que possa ser chamado de decente.

Suas notícias podem não virar documentário de TV, mas podem enriquecer, e muito, a vida daqueles que com eles optarem por aprender e, de modo absolutamente simples e grandioso, crescer.

Confiança na direção de Deus

Na noite de número 219 do ano de 2011, ouvi um depoimento que vou guardar como exemplo de dependência e confiança. Antes de contar o depoimento, permita-me situar o relato no espaço, uma vez que já o fiz no tempo. Estávamos em oito pessoas, num dos muitos estabelecimentos do que conhecemos na região de Jundiaí como "Beco Fino". Este local fica na avenida 9 de Julho, que foi recentemente concluída depois de 'séculos' de obras. Lerdezas públicas à parte, uma vez concluída a avenida ficou "xiki nu úrtimo". Tão chique que sinto-me cidadão de "premero-mundo" ao passar por ela de carro (sempre de carona) ou a pé.

Depois de dizer para a atendente quais os componentes do meu lanche –primeira vez que optei por esse luxo– nos sentamos para acalmar as lombrigas e colocar os assuntos em dia. Felizmente, ando com gente elitizada que não perde tempo falando mal de ausentes. Os assuntos são sempre de papo-cabeça. Mas, de vez em quando a rivalidade dos gêneros se faz anunciar, especialmente quando o assunto é volante, direção, carro, trânsito e temas correlatos.

Como de praxe, as meninas foram rechaçadas em seus hábitos ao volante. É claro que elas refutam, tentam argumentar contrariamente, mas a supremacia masculina sempre prevalece. Embora, os meninos mantenham-se valentes e firmes apenas até a ameaça de não mais ganhar beijinho no fim da noite. Aí, elas retomam as rédeas. Entre uma experiência e outra, uma das integrantes da mesa recordou um episódio que tinha tudo para ser trágico, mas, felizmente, ficou no status de hilário.

Para não expor a imagem da peralta, não vou citar nomes. A menos que ela aceite se pronunciar. Nossa motorista precisou levar sua irmã até a rodoviária de Campinas. Havia um receio grande porque ela tinha acabado de receber a CNH. Contudo, o contexto obrigou-a a atender a irmã e pegar o trânsito de uma cidade gigantesca. Até aqui, tudo bem. No mínimo, um ato de coragem, digno de nota pela disponibilidade.

A irmã da motorista disse que daria todos os detalhes que garantiriam o retorno da recém-habilitada. Além da coragem, as duas merecem destaque pela dose exacerbada de fé. Sem dinheiro, dispunham de apenas R$ 5 (cinco reais) e tinham plena convicção de que seria possível fazer o trajeto de 80 km entre Jundiaí e Campinas (ida e volta).

Se considerarmos que em janeiro de 1998, o litro da gasolina custava R$ 0,811 e o de álcool R$ 0,694, a fortuna que as irmãs dispunham permitiria o abastecimento do veículo com 6 litros de gasolina ou  7 de álcool. Haja fé! Com tudo isso, as irmãs pegaram a estrada. Chegaram em Campinas no tempo necessário para o embarque.

No caminho, foram passadas todas as orientações para que a volta à Jundiaí fosse tranquila. Após a despedida da irmã, a motorista que estava elegantemente calçada com apenas uma havaiana e sequer dispunha de celular, pegou a estrada para voltar. Mas, com tanta experiência ao volante e ainda conhecendo tanto do trânsito de Campinas quanto se conhece a rota dos cometas, é claro que se perdeu.

Sem nenhum centavo de real adicional em mão e sem saber a rota a seguir, se perdeu. A motorista relata que andou muito no sentido interior. Até que viu um grupo de operários em uma via. Ela parou e pediu orientação. Um dos homens deu todas as coordenadas para que ela conseguisse fazer o retorno. Mas, o nervoso e a inexperiência forçaram uma única resposta: "Moço, eu não vou conseguir". Felizmente, ainda tem gente solidária. O instrutor se dispôs a entrar no veículo e ir com a perdida até o ponto a partir do qual ela só teria que seguir em frente sem desviar nem para a direita, nem para a esquerda. Depois que este "salvador da pátria" anônimo entrou no carro com a motorista e a deixou no ponto de partida para pegar o rumo certo, o regresso ao lar se tornou irreversível.

Esta história fez-me perceber a importância da confiança. Mesmo sem conhecer aquele homem que avistou à beira da estrada, a motorista sequer parou para pensar no risco que corria ao colocá-lo no veículo. Mas o medo de não achar o caminho de volta para casa era menor do que o receio de qualquer perigo extra. Isso remete-me a uma oração do salmista que pediu: "Faze-me ouvir a tua benignidade pela manhã, pois em ti confio; faze-me saber o caminho que devo seguir, porque a ti levanto a minha alma" (Salmo 143:8).

Deus, de fato, tem absoluto interesse em nos mostrar o caminho a seguir. Se por quaisquer motivos ficarmos desorientados, perdidos, sem saber que direção tomar, Ele como Pai Justo e Bom sempre terá disposição para entrar no carro e nos dizer para onde ir. Se nossa motorista recém-habilitada teve confiança em um desconhecido que a colocaria no caminho certo de volta para casa, o mesmo vale para que possamos confiar em Deus de modo a que, se estivermos fora do centro de Sua vontade, encontremos o caminho de volta.

A gratidão é professora por excelência

Depois de percorrer algumas ruas de Santos, cidade que  materializa muito da história do Estado de São Paulo e do País, ao lado de uma animada turma de jovens da Igreja Assembleia de Deus no bairro Jardim do Lago - Jundiaí, tive o que costumamos chamar como insight sobre gratidão e memória.
A associação das duas palavras surgiu na volta da excursão enquanto aguardávamos por um lanche especial preparado pelos pais de uma das integrantes da excursão. Durante a espera, começamos a cantar e ouvir alguns depoimentos e manifestações de carinho e amizade por parte dos membros do grupo.

A palavra chave dos pronunciamentos era gratidão. Para expressá-la valiam-se do velho e bom "muito obrigado" a Deus e aos homens. Os agradecimentos eram justificados pela  boa e saudável memória pessoal e coletiva.
Aquelas expressões de gratidão inspiraram-me a refletir sobre o quão importante e saudável é tornar esta prática um hábito. O "muito obrigado" ou o uso de qualquer outra expressão que represente a gratidão pela palavra falada ou escrita nunca caiu de moda.

Ela é conveniente em qualquer situação e para qualquer indivíduo. Quer seja por um simples copo d'água ou por uma cobertura no litoral, o agradecimento é lubrificante e alimento de qualquer relação humana.
Ricos e pobres, negros e brancos, analfabetos e doutores, velhos e crianças, todos devem crescer com esta habilidade de agradecer devidamente aprimorada.

Ser agradecido é tão importante que nas Escrituras Sagradas isso tem status de mandamento: "Sede agradecidos" (Colossenses 3:15). Em outra carta, o apóstolo Paulo escreveu: "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." (I Tessalonicenses 5:18).
Além de melhorar, e muito, a convivência entre os seres humanos no mundo exterior, a gratidão provoca mudanças profundas no mundo interior de cada indivíduo.

A gratidão traz cura, abre a visão, injeta ânimo, renova forças, amplia a criatividade, aumenta a coragem, faz crescer a confiança, ajuda a encarar o passado com mais inteligência e melhora as perspectivas de futuro.
Pela gratidão é possível aprendermos a olhar uns para os outros e ressaltarmos mais as virtudes do que enfocar os defeitos. Isso ocorre porque, devemos olhar para fora depois de olhar para dentro.

Se temos boa memória, lembramos que o reflexo no espelho da alma revela mazelas que fariam corar até bochecha de sapo. Contudo,  mesmo com tantas falhas há quem nos acolha, cuide, queira bem  e, quem diria, até ame. Por sermos aceitos e amados, a gratidão deve nos fazer, no mínimo, retribuir com a mesma medida às pessoas que nos cercam.
A gratidão nos torna alunos de conceito 'A' na escola da vida. Isso porque, a nossa memória nos permite reviver momentos e revisitar muitos lugares sem mover um passo. As lembranças tanto podem nos fazer saltar de alegria quanto nos lançar no fundo do poço. Tudo depende se reagimos com gratidão ou com ingratidão a cada lembrança.

Caso não tenhamos a gratidão como regra de vida, ao recordamos momentos dolorosos como, por exemplo, quando alguém nos traiu, podemos amarrar o defunto da traição ao próprio corpo e reviver o sofrimento com seu mal cheiroso fardo.
Ao passo que, se formos agradecidos, a mesma recordação vai arrancar de nós um largo sorriso por termos saído fortalecidos e mais maduros daquela situação. Isso, sem a necessidade de fazer da amargura uma companheira e sem nos fecharmos para novas e profícuas amizades. Sejamos pois, alunos da gratidão.

Recordações e aprendizados de uma viagem

Viajar com essa turma para Santos é tão gostoso e bom, quanto viajar para o Céu

Despedi-me de Julho com certo sabor de melancolia. E, para receber este Agosto, quero saborear mais um pouco algumas cenas, cores, sons, tons, formas, e sabores que marcaram, indelevelmente, a minha memória neste mês. As experiências a seguir aconteceram na viagem a Santos feita com a juventude graciosa da congregação da Assembleia de Deus, no Jardim do Lago - Jundiaí.

Nos encontramos a partir das 5 horas da manhã. O irmão Maurício Rodrigues, pai do Davi e do Jônatas, levou um cafezinho especial com direito a um bolo delicioso. Uma mão na roda para os três mosqueteiros que já dormiram na igreja (William, Jônatas e Felipe). Partimos pouco depois das 6h da manhã. Foi uma descida tranquila, apesar dos abismos que vimos bem rente à rodovia. Muito bonito, mas de dar gelo na espinha. Na estrada, ficamos confiados na previsão do tempo que anunciava a frente fria com chuva apenas para o final do sábado. Mas, o céu dizia outra coisa.

Quando encontramos nossa guia turística, Helena Hartmann, por volta das 8h50 ela já anunciou que o tempo não estava dos melhores, se comparado ao sol da sexta-feira, mas, sem problema. Àquela altura do campeonato, tudo era festa. Até na chuva a gente garantiria um passeio inesquecível. A primeira atração foi de escuna. Por pouco mais de uma hora passeamos em alto mar. Fomos balançados pelas águas que, segundo o condutor estava a 12º. Quando foi feita a oferta para mergulhar, ninguém se prontificou. Por que será?

No caminho para o porto, fomos orientados a observar as edificações da orla. O comandante lembrou de uma reportagem que aponta para o fato de que 95% das construções tiveram alguma inclinação em função do assentamento do solo. O mais interessante foi o fato de constatarmos isso com facilidade. Embora os técnicos tenham dito que as construções não correm risco de desabar, fica a pergunta: alguém pretende comprar algum apartamento ali? [clique aqui para saber mais].

O passeio de escuna foi encerrado com a passagem pelos 13km de extensão do Porto de Santos, o maior das Américas. Foi chique ver por onde entra e sai uma considerável parte da produção nacional.
Na hora do almoço fomos conduzidos a um restaurante que para excursão fez o preço de R$ 17 com direito a um suco (delicioso por sinal) e podendo repetir à vontade. Devo confessar que assim como o Cláudio, pequei com o pecado da gula. Mas "trifena e trifosa", as lombrigas de estimação, ficaram felizes. Saborearam coisas diferentes. Na sequência visitamos o Aquário de Santos, construído em 1945 por Getúlio Vargas, e reformado em 1998. Embora não seja gigantesco, segundo nossa guia, é o segundo espaço em visitação, o primeiro é o Zoológico.

Saímos dali e fomos para o centro, na praça onde está o belíssimo prédio da Prefeitura de Santos. Um verdadeiro desbunde arquitetônico. A partir dali, uns ficaram para descansar. Outros resolveram andar 4 km (ida e vinda) para visitar a sala dos troféus na Vila Belmiro. Houve ainda a preferência de alguns pelo embarque no bonde que faz um passeio de 40 minutos no percurso que é chamado de Museu Vivo. Vale a pena.

O trajeto inclui pontos que tem ligação direta com a história do Estado e do País. O passeio terminou na Bolsa do Café. Outra edificação de arquitetura exuberante e que deixa qualquer um embasbacado. Tudo descrito acima é uma tentativa de relatar as impressões do mundo físico aprendidas no passeio. Em suma, só posso concluir com a lição de que aprender com a História do jeito que aprendemos é simplesmente maravilhoso.

Aprendizado espiritual
No dia seguinte, o de número 212 do ano de 2011 (31/07), Papai do Céu inspirou-me a falar sobre gratidão e memória. A associação nasceu na volta da excursão.
Como Deus é de uma Sabedoria inconfundível para aproveitar toda e qualquer situação para o bem dos seus adoradores e para a glória do seu nome, tivemos que parar num posto à beira da rodovia para aguardar a chegada dos pais da jovem Luíza. O plano original era chegar à casa dela e devorar o lanchinho vip preparado pelos seus pais.

Mas, por burocracias que eram desconhecidas do líder da caravana, o querido Cláudio Dourado, o ônibus não tinha autorização para trafegar de Santos à Praia Grande. Em função disso, a solução inicial era murchar as orelhas e pegar a estrada para Jundiaí. Essa alternativa faria com que todo lanche e bebida preparados para 45 pessoas (bons de boca, diga-se de passagem) iria se perder.

Depois de muita argumentação, decidiu-se, então, por esperar que o lanche viesse até nós. Nada mais justo. Se as bocas não vão aos lanches, os lanches vêem às bocas. Estava chovendo, nada muito forte, mas o suficiente para nos manter dentro do ônibus. Enquanto aguardávamos, Cláudio propôs um devocional com direito a testemunho, leitura da palavra e, claro, adoração. Resultado: fomos visitados pela presença de Deus. Lágrimas e choro se misturaram às notas musicais de louvores que explodiam como brados de gratidão por tudo o que o Senhor fez, faz e pela convicção plena de que Ele continuará a fazer.

Testemunho de cura, expressões de gratidão pela amizade e companheirismo. Como não pedi autorização para citar nominalmente um dos integrantes da caravana, quero apenas citar o seu testemunho que muito me emocionou e ensinou. Enquanto adorávamos, este jovem chorava compulsivamente. Mas não era um choro de dor. Não era um choro de angústia. Suas lágrimas traduziam o sentimento comum: gratidão. Em seu choro estava a revelação de um cuidado verdadeiro, amplo e irrestrito: o cuidado de Deus.

Antes de ter conhecimento disso, quis saber qual era a revelação que tinha vindo ao seu coração. Ele contou que antes de embarcar, chegou a ter uma motivação de que esta viagem seria uma despedida para ele, caso não ouvisse a voz do Senhor de qualquer maneira que Ele o quisesse fazer. Como o amor de Deus é, de fato, inexplicável, vivenciamos juntos a única parte que nos cabe neste amor: experimentá-lo, senti-lo, saboreá-lo e compartilhá-lo.

Depois de muito relutar para tomar a palavra, enchi-me de coragem e, aproveitando o perfume de gratidão que exalava de cada adorador, refleti um pouco sobre os seus efeitos. Em síntese, expressei ali que a gratidão nos ajuda a olharmos uns para os outros e ressaltarmos mais as virtudes do que enfocar os defeitos. Eles existem. Ainda bem. Afinal, se não existissem porque o Cordeiro teria se entregue voluntariamente? Ele veio e pagou o preço pelo nosso resgate, para ser nosso modelo e provar que é possível alcançarmos a excelência.

A gratidão deve nos ensinar a sermos os melhores alunos possíveis. O aprendizado acontece todo dia e com todas as pessoas. A gratidão abre os nossos olhos e revela o quão pequeno somos diante do Criador e nos impulsiona a adorá-lo porque mesmo sendo tão grandioso ainda se importa conosco. A gratidão deve nos impulsionar a ir em busca dos não alcançados. Embora já esteja nos 32 ainda me sinto com energia dos 20 e, por isso, sempre me aflige a percepção de que a nossa geração está morrendo. Muitos jovens sendo ceifados pela violência urbana, pelas drogas, pela prostituição. E, uma vez gratos a Deus pelo que Ele fez e faz conosco, temos o santo, honroso e glorioso dever de anunciar este amor e a possibilidade de nova vida que é dada a todos os homens mediante o sacrifício do Cordeiro Santo vindo do céu. O fato é que naquele momento Deus completava a revelação da palavra que eu devia ministrar no dia seguinte, na congregação da Colônia, no culto de jovens de lá.

Fundo do baú
Como integrante da classe dos veteranos tive o prazer de encontrar gente de boa memória musical, enquanto a turma do pagode agitava um pandeiro e um cavaco no fundo, começamos um momento flashback na frente do ônibus. Para lembrar os títulos e trechos dos hinos participaram Rosana Furkim, Enéias Alves Feitosa, Jônatas Rodrigues e eu. Os demais ajudaram cantando. Isso, quando lembravam as letras! Confira a relação no fim do post. O fato é que foi um momento especial. Embora tecnicamente eu fosse o pior no grupo, felizmente, Deus releva isso e recebe a adoração apesar do desafino. Deixo aqui minha gratidão por não ter sido rechaçado ao puxar a fila tirando hinos do fundo do baú, mas, pelo contrário, encontrei gente boa que sabe o que faz com a voz e, o mais importante, tem prazer em adorar ao Senhor. Beijos no coração de todos!

Clássicos que recordamos no busão! Para assistir no YouTube, clique no título.

["Cicatrizes"]

["Deus resolve o seu problema"]

["Divino Companheiro"]

["Felicidade"]

["Gólgota"]

["Nascer de Novo"]

["Quarta Dimensão"]

["Se isto não for amor"]

["Sou um milagre"]

["Tocou-me"]

 
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